(Fortaleza – CE)
Quase todas as sextas, dona Firmina preparava um sopão para o jantar. A iguaria era ansiosamente esperada pelos três filhos. Seu João, o marido, era que mais se aquietava a espera. Moravam em um vilarejo com pouco mais de 10 mil habitantes cuja economia se orientava pelo comércio e pescados.
A rotina da família era pacata. Os filhos iam à escola pela manhã e seu João ao trabalho na fábrica de calçados. Orgulhava-se por trazer o sustento de casa e, vez por outra, dentro de suas condições, trazia também mimos aos filhos e a esposa.
Dona Firmina se encarregava dos afazeres domésticos com esmero. Labuta difícil, mas que muito lhe contentava dado os gracejos do esposo no fim do dia. Era a compensação. No mais, nada se alterava no cotidiano. Eram caseiros tanto por instintos quanto por falta de dinheiro. Quando muito, iam ao parque a fim de repaginar um pouco a vida. As crianças se divertiam correndo, enquanto seu João solvia uns goles de cerveja justamente com a esposa no quiosque de seu Arlindo. No mais, era isso o entretenimento da família. Fora isso, eram as sextas-feiras que alvoroçavam a família. Dona Firmina não se cansava da rotina de prepara-lhes seu estimado sopão com ossadas e muito legumes.
“ Que delícia, mamãe”
“Que isso, gente, vocês não cansam não?”
O não sempre vinha em coro perfeito como se tivessem ensaiado.
“Muito bom, meu bem”
E, assim se iam às sextas todas. Após degustarem, iam aos jogos.
“Dominó?”
E, novamente o coro vinha num tom só. Mas, agora diferente no primeiro, vinha-lhe além das vozes, os gestos de euforia.
“Sim, papai.”
Seu João ia ao encontro do tabuleiro de madeira que fielmente guardavam sob o armário velho da sala.
Assim, iam todas as sextas.
Dona Firmina felicitava a si toda aquela vida. E, mesmo com toda limitação financeira, não se lamentava. Orgulhava-se de ser uma mulher do lar.
“Amor, qual o segredo desta sopa tão gostosa?”
A esposa não dizia. Limitava-se, dizendo-lhe segredo…
Certo dia, seu João chegou agoniado, dizendo-lhe o alvoroço na praça. Alguém andava profanando os túmulos do cemitério.
Dona Firmina não se fez de rogada.
“Que horror, meu Deus”
E, foi tratar do jantar daquela sexta.
Ótimo conto. Só não quero mais sopa, rsss.
E AFINAL???? ERA DONA FIRMINA QUE MEXIA NOS CORPOS?? ESTOU SUPER ENCUCADA. ESTE CONTO É DE DEIXAR O LEITOR CHATEADO KK POR NÃO ATENDER À EXPECTATIVA DE TER UM FIM DE MÃO BEIJADA.
ÓTIMO TEXTO. COMO FAÇO PARA ENTRAR EM CONTATO COM O AUTOR?
Bom dia, Lucy. Obrigado pela leitura e pelos comentários. Que bom ter um texto que causou algum impacto. É estimulante. Gosto de ter um texto no qual o leitor precisa particular da construção de sentido. Grato por suas palavras.
Incrível como o texto me prendeu a atenção. Sem rodeios. E o final é de ficar chateada rsrs. Chateada por não atender à expectativa do leitor, entregando a resposta de bandeja. Você deixou que eu decidisse o desfecho. Texto muito bom. Escritor, obrigada!
Bom dia, Palmer. Obrigado pelas palavras. A ideia é justamente deixar o leitor construir os sentidos do texto. A participação do leitor é de extrema importância para significados textuais.
E AFINAL???? ERA A DONA FIRMINA QUE ESTAVA PROFANANDO??
ESSE CONTO ME DEIXOU ENCUCADA!!
EXCELENTES COLOCAÇÕES. MUITO BOM MESMO, SEU TEXTO. 😉
COMO FAÇO PARA TER CONTATO COM O AUTOR?
Lucy, novamente agradeço pelos seus comentários. Muito estimulante ver que você gostou do texto.
Sobre a questão da profanação, deixarei a ti a interpretação. A ideia é a discussão.
Quanto ao contato, deixarei meu e-mail: juniorrrusso.felix@gmail.com
Muitíssimo grato.
Seja bem vindo para sempre comentar.